Durante nossa existência deixamos memórias, rastros físicos e, atualmente, também rastros digitais. Em tempos de internet e redes sociais, mesmo quem é mais reservado acaba sendo lembrado por um amigo, marcado em alguma foto ou mencionado em algum comentário. Cada vez mais deixamos nossa marc
a no mundo, também por aquilo que publicamos em nossas redes sociais. Essa nova forma de interagir e se relacionar afeta as diversas esferas de nossa vida e influencia até mesmo a forma como lidamos com a morte e o luto.
Não é incomum vermos perfis de pessoas que já morreram ativos no facebook, recebendo mensagens, declarações de saudades e até mesmo sendo felicitadas pelo aniversário. Mas, até que ponto as redes sociais nos ajudam ou nos prejudicam na hora de viver o luto? A resposta é complexa e essa história toda está apenas começando.
Para a família que perdeu seu ente querido, além do luto e da tristeza normal a qualquer perda, agora também é preciso lidar com a enxurrada de notificações nas redes sociais. As mensagens de carinho e pesar podem trazer conforto e apoio e isso é algo muito positivo para o trabalho de luto. Todavia, em muitas situações, a coisa não pára por aí. O perfil da pessoa que morreu continua sendo alimentado – algumas vezes pelos próprios familiares – ou os familiares continuam sendo “marcados” em fotos e lembranças com o ente querido falecido. Há dias atrás, soube de um “desavisado” que convidou um conhecido para um encontro “uma hora dessas”, sem saber que o convidado em questão havia falecido. Inusitado! O fato é que, para aqueles que perderam e estão tentando elaborar sua dor, tais situações podem prolongar ou reavivar o sofrimento, impedindo que o trabalho de luto siga seu curso natural.
Manter o perfil da pessoa morta ativo pode ser uma tentativa de prolongar a presença e a memória daquele que partiu. Uma tentativa de manter as lembranças vivas – às vezes ainda nos esquecemos que aqueles que um dia amamos são inesquecíveis. Para o psicólogo Roberto Oliveira, tentar manter a pessoa viva nas redes e não colocar um ponto final pode gerar grande mal estar uma vez que, para elaborarmos um luto de forma saudável, é preciso lidar com a perda, com a ausência e a saudade. Não há outra forma.
Por outro lado, para alguns, manter o perfil do ente querido ativo e ali manifestar seu pesar ou mesmo enviar-lhe mensagens in box nos dias mais difíceis, pode constituir-se parte do trabalho de luto. Por algum tempo isso pode ser necessário e até saudável. O problema começa quando aquela tarefa passa a ser o único foco do indivíduo, sua única fonte de alívio e conforto. Ou ainda, quando tal comportamento começa a trazer isolamento social e limitações ao seu dia-a-dia.
Outros optam por criar uma página na rede – isso é diferente de manter a página do falecido – um memorial digital para aquele que morreu e ali colocam fotos e conteúdos que marquem a sua passagem pela vida. Em poucos cliques podem relembrar a imagem, a voz e os gestos de seu ente querido. Caracteriza-se como uma homenagem àquele que partiu, uma espécie de cerimônia virtual para viver a saudade e relembrar.
Se usado esporadicamente e de forma saudável o memorial virtual pode tornar-se uma forma de encontrar conexão com o falecido e isso é positivo. Ainda assim, nada poderá substituir a vivência física/real do luto.
Atualmente o Facebook oferece duas opções para destinar o perfil de alguém que já morreu. É possível solicitar que o perfil seja transformado em memorial ou que ele seja apagado. “Na primeira opção, a expressão ‘Em Memória’ aparecerá ao lado da foto de perfil, os amigos na rede não receberão lembretes de aniversário e a pessoa não aparecerá mais como sugestão de amizade” (Luiza Pollo, jornalista). Já apagar o perfil pode ser mais difícil e para isso, um familiar precisará entrar em contato com o Facebook e fazer a solicitação.
Quando se trata da vivência do luto nos meios virtuais, tudo ainda é muito novo, repleto de questionamentos e possibilidades. O fato é que a tecnologia já permeia muitas esferas de nossa vida e certamente na nossa relação com a morte e o luto também tem sua participação. Cabe a nós fazermos bom uso dela também para esse fim. E para isso, continua valendo aquela velha regra: usar com bom senso!
Inspiração: http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2016/10/24/memorias-digitais/








